Doença neurológica causa movimentos de torção involuntários pelo corpo
Difícil de diagnosticar, distonia causa incômodos incapacitantes, atrapalhando do trabalho ao cuidado pessoal
Foto: NIH Image Gallery/Flickr-CC
A distonia é um distúrbio neurológico que causa contrações musculares involuntárias graves, em qualquer região do copo, como se fosse um espasmo, mantido por certo tempo. De difícil diagnóstico e altamente incapacitante, a doença é a segunda patologia mais atendida pelo Ambulatório de Distúrbios do Movimento da Clínica de Neurologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM), e perde apenas para a doença de Parkinson, que lidera o atendimento. As distonias de causas definidas são provocadas por lesões cerebrais relacionadas ao parto, trauma de crânio, infecção do sistema nervoso central, tumores cerebrais, doenças degenerativas e também por efeitos colaterais de alguns medicamentos.
“Trata-se de uma doença relativamente rara. São 20, 30 casos para cada 100 mil pessoas e é um diagnóstico difícil. Quando o sintoma aparece na pálpebra, parece um problema oftalmológico, uma irritação no olho. No pescoço, algum problema ortopédico. Então, o paciente passa de área em área até chegar ao neurologista, que sabe identificar o quadro”, explica o professor Egberto Reis Barbosa, do Departamento de Neurologia do HC ao Jornal da USP no Ar. Por isso, há uma latência entre o aparecimento do sinal da distonia e sua identificação. Seu principal sinal são os movimentos involuntários de torção pelo corpo.
Sua causa etiológica pode ser genética, quando é chamada de distonia muscular primária. Nesse caso, pode aparecer desde a infância. Remédios para doenças psiquiátricas, chamados neurolépticos, são outros possíveis causadores da doença, sobretudo em adultos. “Os quadros provocados por medicamentos normalmente são mais focais, atingem uma parte específica do corpo. Já os congênitos têm, ocasionalmente, efeito geral no organismo, afetando múltiplas zonas”, esclarece o médico.
A toxina botulínica, muito usada na estética, é a principal forma de tratamento da doença. “O método foi aplicado primeiro em casos de distonias, só depois levado a outras áreas da medicina. A injeção relaxa músculos e tônicos musculares, resultando em um alívio ao paciente”, afirma Barbosa. São feitas sessões periódicas por determinado intervalo de tempo, normalmente três, quatro meses. E, como o quadro não tem cura, o procedimento pode se repetir ao longo dos anos. O profissional controla os sintomas.
Dado o efeito local da toxina botulínica, casos generalizados podem demandar intervenção cirúrgica. Diante disso, se realiza uma estimulação cerebral profunda. Isto é, “se colocam eletrodos no cérebro do paciente, proporcionando estímulos elétricos diretos, como se faz no tratamento da doença de barcos”, explica o entrevistado.
Apesar do diagnóstico difícil, o Ambulatório de Distúrbios do Movimento da Clínica de Neurologia do Hospital das Clínicas atende cerca de 400 pacientes. O médico ressalta a importância de divulgar a doença, já que o tratamento adequado devolve a pessoa para a sociedade. “Existem casos onde o incômodo é tamanho, que a pessoa sequer consegue trabalhar.”
Por Pedro Teixeira | Jornal da USP
Editor Local: Willen Benigno de Oliveira Moura
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