Brasileiro implementa técnica de cirurgia cardíaca inovadora na América Latina
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Começa a ser realizada no Brasil uma nova técnica cirúrgica para o tratamento da Fibrilação Atrial (FA) - tipo de arritmia cardíaca de maior prevalência no mundo -, sem a necessidade de radiação ionizante. Chamada de Ablação por cateter livre de fluoroscopia, ela é totalmente guiada por ecocardiograma intracardíaco e mapeamento eletroanatômico 3D, apresentando segurança e eficácia idênticos à técnica guiada por raios-X.
Feito pela primeira vez no Brasil pelo cardiologista e eletrofisiologista Dr. Eduardo Saad¹, a técnica representa um grande avanço na segurança de pacientes e médicos, dada a exposição frequente, e em doses significativas, de radiação ionizante, tanto em métodos diagnósticos quanto terapêuticos.
Para se ter ideia da relevância do novo procedimento, a dose efetiva de radiação que um paciente recebe durante uma ablação para FA é o equivalente à dose recebida de 750 radiografias de tórax, em um periodo que dura cerca entre 20 e 60 minutos de exposição, sendo ainda maior em pacientes obesos. Para os profissionais que realizam estes procedimentos, ainda que com coletes, o risco de desenvolvimento de câncer ao longo da vida é considerávelmente maior que na população em geral. O mesmo ocorre com os pacientes submetidos a procedimentos e metodos diagnosticos ao longo da vida.
Foram dois anos de aprimoramento até chegar à técnica, que já foi inserida como rotina. "Ao excluirmos o recurso do raios-x e implantarmos o mapeamento eletroanatômico e do eco intracardíaco, partimos para uma nova era no tratamento da FA, inspirando a criação de um serviço de tratamento de arritmias totalmente livre de radiação", comenta Dr Eduardo Saad. A técnica é atualmente realizada em poucos dos principais centros de excelência no mundo e exige uma curva de aprendizado.
O médico salienta que o procedimento também é importante para quebrar paradigmas de médicos eletrofisiologistas treinados por anos a confiar em exames de imagem por fluoroscopia e que agora poderão ser reorientados para uma prática mais moderna e segura para todos.
Entendendo a ablação por cateter
A ablação por cateter é utilizada quando o paciente não apresenta bons resultados com medicamentos, ou quando prefere um tratamento definitivo da arritmia. Concomitante à ablação é realizado o estudo eletrofisiológico do coração. Um cateter elétrico sensível é usado para mapear o músculo cardíaco e as origens da atividade elétrica "extra" do órgão. O mapa indica quais as áreas problemáticas dos sinais elétricos que interferem no ritmo cardíaco. Prosseguindo, o médico realiza a ablação, ou seja, a cauterização do tecido para cicatrizar as áreas com problemas, que então deixarão de enviar sinais anormais. O procedimento é minimamente invasivo, geralmente bem sucedido e o coração volta a seu ritmo normal. O paciente tem um curto período de recuperação.
Entendo a Fibrilação Atrial
A doença atinge aproximadamente 175 milhões de pessoas. No Brasil, deve aumentar de 5-10% nos próximos anos, sobretudo em indivíduos na faixa dos 75 anos, em virtude do envelhecimento.
A doença é caracterizada por batimentos rápidos e irregulares do coração, devido à contração rápida, irregular e pouco eficiente dos átrios, gerada pelos batimentos cardíacos sem sincronia. "Esta condição facilita a estagnação do sangue e a formação de coágulos no interior dos átrios, que podem se desprender e entupir as pequenas artérias cerebrais, interrompendo a circulação de sangue e oxigênio para o cérebro, causando isquemia e infarto cerebral (AVC).
¹ Dr Eduardo Saad
- Coordenador do Serviço de Arritmias e do Centro de Fibrilação Atrial – Hospital Pró-Cardíaco (Rio de Janeiro)
- Doutor em Cardiologia pela UFRGS
- Fellow da Heart Rhythm Society (EUA) e da Sociedade Europeia de Cardiologia (FESC)